30.1.07

Controlo

Chamar-lhe-iamos inteligência se nos vivesse completamente. Distânciamento da imperfeição tão unicamente humana, pensada. Mas e se? Coisa tão emanamente intrínseca a de pensar mais alto, o não real. Que luxúria a nossa de etéreo equilírio? Extremos amantes tão logicamente alcançáveis? Há que imaginar, noção de contentamento, de impossibilidade. Capacitado por tal, elevaria-se à mais alta frieza, não vivência subjectiva. Aborto de sociedade desvalorativa, nunca universal. Colapso total perfeccionista. Apenas o inalcansável fascina. Divina balança corporal equisentimental e materialista. Absolutidão de contrários. Tudo. Viciosa errónica. Chora-me por dentro, desilusão. Água desgostosa pela inegável essência, desespero pelo incapaz. Tempo, passar tempo, mente...e então, a calma. O controlo. Mais sóbrio conceito idealizado. E o desejo por tal não é mais que banalidade para alguns. Há que, nisso, procurar o atingível pela coexistência do pensamento, negar frustração e lamento. Controlo de nós.

24.1.07

Palavras

São proferidas num tão vulgar tom que todos lhes desconhecem a criação. Ideal ordinário em que vivem que nem a caneta de um escritor. A abrangência desconhecida, inimaginável, retarda-lhes o pertencente caos. Conhecem cada canto, de onde criaram protecção mundana para os significados omitidos ancestralmente, pura dúvida de necessidade de alguém. Desejo de quente por dentro, vontade de conforto irresponsável, vivência não solitária. Criadas, destróiem a essência concebida. Livres, habitam etéreo pensar humano, esvaiem a lógica por si mesmas criada, vivem de próprio ciclo. Ciclo de fim momentâneo: vingam cada morte, dissipam cada óbvio. Tudo seu.

22.1.07

Nunca

Um dia saberás quem foste
Que sonhaste um mundo só teu
Exististe, exposto
Pensaste o imaginário
Criaste eterna ilusão
Sentir ? Nada.
Tudo em mente
Tudo em vão

Manhã

Desperta do profundo sonho que viveste. No pacífico, ergue o teu pensamento bem alto para que a consciência te invada a alma. Descansa da rede que te atormenta, caminha para o insubstancial passeio da calma alheia. Lá, abdica. O sol encara-te a face como se só a ti iluminasse. Teus olhos reflectem o que te enche por dentro. Tanta paz recôndida que um corpo atónitamente aflito possui. Mas existe sempre este acalmar, tal que só o sol te traz, seja a manhã em que escutas melros de um negro carvão a sussurrarem as mais apaziguadoras preces, sejam as árvores que acabadas de olhar a luz emancipam o seu verde tão calmamente reconfortante. Fresco. Estado de mente tão etéreo e efémero. Há que devorar a sua virtude, dom tão magnificamente eficaz. Angústia e ânsia ? Já te aguardam. Pensamento ribombante volverá a teu corpo. O teu espírito presentemente sedado romperá, imerso na aflição. Nega permissão. Guarda cada manhã de sol para ti.

Definição

Que é existir sem querer morrer
Luz que emancipa no escuro
Sentimento invade corpo duro
Olhos abertos ao mundo,
Impossibilidade de entender

Cumplicidade humana afastada
Mente pura, alma dourada
Angústia preenchente de vazio
Lençol que desabriga frio

Querer o mar que não é escrito
Poetas tais só conseguem ver
Há que encontrar, chamar por nós
Eterno fruto imaturo que é o ser

Tudo o quê, senão viver ?

21.1.07

Fuga

Há que encará-la como um emaranhado de linhas, construído na perfeição em cada seu ínfimo pormenor. Turbilhão enegrecido pela derrota de princípio tomada. Que sentido o de tentar desviar um fim tão existente? O aprisionamento leva à vontade de sumir. Desespero de destruir tudo e partir para bem alto. Os inúmeros braços impotentes tentam o inalcansável, o desemaranhar das linhas, a resolução e ignorância. Porém a fuga nunca se dá, a mente não permite. Bem sabe que as únicas linhas descruzadas vivem da ignorância ou da loucura genialista, ambas não queridas. E prolonga, prolonga de modo a que nunca acabe e sempre se complexe mais. Imensidão de dúvida e confusão. Mente e fuga confrontam-se para dominar o corpo. E as linhas dançam e sorriem como se apreciassem a a derrocada, o ruir do controlo. Sempre souberam que era preciso mais para suportar o confronto inevitável. A alma? Descanso, não sabe se a ignorância ou a inteligência, mas o descanso. Fuga do simples real e ordinário. Vontade tão incomensurável de escapulir, grito de desespero infindável por libertação mental. Os tais de braços esvaiem-se na sua essência, falta de motivação para o desvio do tal fim. Resguardar. Resguardar para depois voltar. E talvez um dia a fuga se dê, se liberte. Que a alma descanse...

15.1.07

Re-cria

Observa o rasto fulvo da vivência inteligível
Abdica do sorriso por entendimento
Sê aquele que concebe o sentido da existência
Existe em paz, conflictua apenas em espíritio
Deitado fantasia a tua realidade
Faz de ti absorto da ignorância dos outros
Fecha as portas a tudo .. sê um só no teu mundo

Abismo

Uma vontade nenhuma. Carência do indecifrável. E o desejo crescente de percepção é tão estranhamente anulado pelo orgulho que o pensamento questiona o seu limite racional. Faz com que cada ideal reúna a sua cor intensa em dúvida, concebendo um negro tão metafisicamente inibidor. Inibe a inconsciência imaginada invisível, querida sem porquê. E se o descontrolo da ânsia por mais leva do branco ao preto, porque não há a loucura de arriscar o para lá da escuridão ? O conjunto de alma pensante e confusa, a reflexão de atitudes e posturas mentais, do monótono nada e tudo que nos preenche, cresce. Cresce e aprisiona o que mais anseia por capturação, dado a capacidade de contaminação da ignorância feliz; e explode .. liberta e grita o extâse de cores, o negro. E é uma queda livre sem fim ..

8.1.07

Duração

Pensei que desse algo melhor
Achei que o étereo poderia evadir-se
Até que o rosa me emancipasse o riso
Julguei o conhecimento de tudo isto

Mas não, nada. Ou tudo.
De facto a contraditariedade muda
O infinito de coisas que boiam em mim
De cor indefinida de pensar

Olhar sem possesão
Inutilidade frenética que me treme
O agarrar, escapa
Desespero ? Grita, ilude e foge !

Pós momento depressivo
Retoma tudo vez a vez
Pensamento eterno inconclusivo
Volta a sensação .. venha ciclo !

Até que chega, momentâneo
Abrir de olhos e esclarece o inalcansável
Humanamente frustrante
E o fim

Um julgar de coisas mortiferamente enlouquecedor

3.1.07

Alma

Ele bate com tanta força e agonia que chega a saber a morte, sabor a medo mas mesmo assim a concretização de palavra. Mas passa sempre, apenas deixa o desejo do fim, daquela morte tão ambiguamente querida. Chamem tresloucada se quiserem, agora a alma deixou de ter ouvidos. O mundo cá dentro vestiu-se de luto pela estupidez dos actos, pelo despercídio de alguma inteligência. A irreversivilidade começa a dar sinais, realmente as flores grandes e vistosas desaparecem com o tempo, não para todos. Para uns apenas deixam de ter importância, ou a sua existência é gozada. Outros, simplesmente invejam a sua simplicidade e adoptam a atitude de parecerem superiores. E se calhar são, ninguém sabe. O que é que esta alma está a fazer ? Meu deus, a complexidade atinge-a como um tiro, mas não liga. E mesmo assim continua a mostrar-se, juro até que avisa .. de nada serve. Nada. Porque no fundo tudo isto é nada. É passar porque tem de ser, porque não há mais nada a fazer. Pode passar-se no apático. Até naquela felicidade patética. E ainda há o passar-se a pensar, a pensar para depois se acabar sem ter percebido porquê, mas sem o patético, o bom do ignorante. Mas o inatingível de momento, talvez por se ter perdido o inteligível, é o porquê deste ciclo obscuro vicioso e auto-consumista. A alma chega até a duvidar da lógica, aquilo que sempre a moveu, tal é a grandiosidade do acabamento. Lógica essa que lhe indicou, tal como aos outros, que se sabemos a causa da coisa e sabemos como resolver a coisa, então acaba-se a coisa. Mas que coisa ? Talvez seja esse o problema da questão da alma. Também, que glória terá uma alma que pergunta sem resposta, que magoa sem perdão, que chora sem porquê. Mas o pensamento, esse sim talvez o maior feito da ciência ou de deus, de momento não tenciono discutir crenças, nunca deixa a alma perder-se em paz. Ela pede para que morra, até que lentamente, não se importa, mas por favor sem consciência do destruimento em roda. Porque assim dói ainda mais cá dentro. E a alma pensa. Pensa mas não atinge. E o que faz é pedir desculpa. Desculpa por existir.