8.11.07

Ser

Sei que ser é ser existente
Sei que é ente que grita por si
E se ser for coisa diferente
Irei eu chorar-me eternamente
Pois não tive noção do meu fim
Não há ser algum em mim

15.10.07

Um

Há um silêncio mordaz
Nesses verdes olhos teus
Em que todo o mundo se faz
Sempre que olham os meus

E és metade ausente
Quando em meus lábios chove
Não há, animal meu, outro ente
Por quem meu choro se move

Pois somos membros desmembrados
De um só nos partimos
De um só nos juntámos
E és meu em toda a dimensão
Deste meu triste e pobre coração

Tenho uma Arma na Mão

Se olho em volta
Questiono
Que é esta civilização?
Pois a cada passo
De outro me recolho
Tenho uma arma na mão

Sempre me intriga
O abraço que nunca dei
E em silêncio me manifesto
Pois me assusta o gesto
Não é de compaixão
Se o é, não o sei
Tenho uma arma na mão

6.9.07

O Livro

Não vá a água molhá-lo
O livro que jaz no chão
Ainda as palavras se sumem
Não mais ao sol brilharão

Não vá o pó manchá-lo
O livro que jaz no chão
Ainda palavras se confudem
Não mais ideal iluminarão

Mas se o livro jaz,
O sol brilha em vão
Que água e sol sempre se tem
Luz para o ler é que não..

5.9.07

peço desculpa pela falta de novidades .. mas férias são férias!

(daqui a 9 dias volta ao mesmo :S)

30.6.07

Memória Outra

Sei do velho que conta
Ao mundo que lhe diz
Estende-te à solidão
-Sempre a tive, nunca a quis.

Mas que sozinho pelas ruas
Já o velho sorriu
Viveu extraordinário mundo
Na companhia que o já viu.

Em tal reflexo inseguro
Se lhe atribulava a mente
Na imensidão de realidade
Sabendo nunca o que sente

Chora meu velho, lamenta
Ignorância será nunca pecado teu
Se só te vives, persistes, contentas
Habitas lugar melhor que o meu

5.6.07

Espelho

Conta ao humano que vês
Que tudo o que lhe fiz
Foi coisa que imaginei
Mas coisa que nunca quis

E que não mais lágrimas caiem
Onde desespero é rei
Contas às palavras que lhe saiem
Que são de ninguém, não as sei

Mostra-lhe que se é triste
Eu o choro em solidão
Mas conta-lhe que é o que resiste
Ainda é quem diz não

16.5.07

Surda

A voz com que me falam
Não a ouço, não a sei
Vivo de olhos abertos
Ao mundo onde o silêncio é rei

Não é que nada proferido
Pelas bocas que me engolem
Não faça qualquer sentido
Não mova almas que nisso morrem

Mas sou surda a palavras
Que em mim nada são
Saiem certas, entram erradas
São-se fora do meu coração

E os coalescentes ditados
Chegam-me inóspitos, distorcidos
Ou terei já os pensamentos artilhados,
Para que nunca os considere vividos?

6.5.07

Sem Saber

Por nada me fico
Sem causa de ti
Só talvez com a lembrança
Do que em sonhos possuí

E que de alma barrada
Te julgo por mim
Te vivo, errada
Na ânsia de um fim

Sê eu.
Faz-me saber o que saber
Faz-me acreditar-te por mim
Enganar toda a verdade sem ver

Sorri.
Finge seres diferente
Finge seres tudo o que preciso
Seres-me tudo leveanamente.

19.4.07

Cura

Quero o tudo e quero o nada
Ser por inteiro a quem pertenço
Em que num sorriso desmotivada
Me dou às almas de quem venço
E todas as cores a preto e branco
Que me coloram a cegueira
Onde sou bastão libertado
Que sempre tropeça na beira
Deêm-me um mundo atropelado
De amor, dor, alegria e traições
Quero tactear desprovida de cuidado
Errar para armar as emoções
Que venha então o proveito
Da desinocência de sofrer
E ser a maior feliz sem preconceito
Depois de tal angústia me encher
Quis saber, e agora metade sei..
Quero alcançar a minha procura
Arrepender-me do que nunca farei
Não morrer da doença mas sim da cura

8.4.07

A Rapariga dos Olhos de Ninguém

Cega, vê o tudo
Se ama? Sempre alguém!
Eterna solitária acompanhada
A rapariga dos olhos de ninguém

Num só abraço o mundo odeia
Num outro igual todo o contrário lhe provém
Na linha de extremos, é horizonte
A rapariga dos olhos de ninguém

Mas os sentimentos são a menos
E suas palavras são a mais
Vive na ânsia do que nunca vem
A rapariga dos olhos de ninguém

27.3.07

Saudade

Se disse que ignorei, menti
Sou tudo o que vive
Mede e compensa
Hoje, sou tudo sem ti

E vê que em cada espelho
Se reflecte o quanto me fazias
Lutar pelo nada
Vê silêncio que te explica
A vontade abandonada

25.3.07

Alguém

Subo a rua que tu já desceste
Sozinha pensei o impensável
Sozinha me achaste...
E então o pensaste comigo
E sou agora o sorriso que te pertence
Sou a eterna dúvida entre o saber e o sonhar
E como se os gestos não me bastassem
Como se as palavras não me chegasssem
Contradicta te questiono, a nós e ao que será o amar...
Mas com todo o silêncio que me dás
Com cada toque em que me tornas amada
Me fazes acreditar
Que encontrei o tudo
Ao lutar pelo nada...

20.3.07

Talvez

Talvez se amasse como quem sorri
Em que tudo surge, tudo o que vi
Faria de mim criança apartada
Em vez de morta, vida pensada

Talvez se as palavras me dessem
Sentido tal ao imaginado
Seria eu em todo um livre
Livre de impróprio sentir limitado

E talvez se fosse mais que nada
Aquilo que dou a quem me pede
Seria eu viva, e errada
No silêncio de quem cede

Estória

Era uma vez um menino
Que brincava e saltava
E que sempre que caía
Pela mãe chorava

E a mãe logo acodia
Na sua maior aflição
E o menino, sorria,
Por ter o amor da mãe na mão

Ao atravessar a estrada, um dia
A mãe do menino morreu
E ele chorava, chorava
Mas ninguém apareceu

Assim o menino ficou
Sozinho e triste e sem ninguém
À beira daquela estrada, sentado
Sem o amor da sua mãe

E o menino triste descobriu a vida
Para sempre sentado naquela estrada, divagou
Descobriu que sentir o fazia chorar
Descobriu que pensar nunca tanto o magoou

Então, naquela estrada de fim
O menino, absorto, morreu
Insensível, olhou um carro e a luz
E sozinho, adormeceu

12.3.07

Momento

Hoje marquei pai
Corria mas parecia andar
Prolonga-se o momento
O será espera em vão
E o foi pede perdão
Cheguei à linha final
As cores unem-se
Nada se ouve
De tão lindo ser o que dizes
Assim como tudo o que digo espanta
O toque abandona-me
Cheirei o nada
E vi tudo
Hoje pai, morri

Cláudio

prenda fantástica, de facto
muito obrigado :)

7.3.07

Longitude

Pensando bem, nunca achou que valhesse a pena. Agora, a sua firme idealização parecia estar a traí-la. Desde pequena que eram longas e tortuosas as noites que levava a divagar na sua morte. A princípio, era-lhe incapaz a compreensão de tais noites, em que as pernas tremiam, incontrolavelmente, em desespero, as lágrimas lhe inundavam o sono, e este era substituído pelo então estrangeiro sentimento de indagação acerca do que fazia ali, deitada na sua cama. Passado tempo, chegou a deixar de pensar na questão, vivendo na alegria de uma sociedade em que juntos nos igualamos, juntos somos o que há a ser, sem questionar. Uma autêntica perfeição, de facto. Porém, o toque veio. Aquele toque que despertou em si o que não sabe se proveitoso ou se fatal, mas certamente o que a levou a relembrar as noites de abstracção na cama. Morte. Mas estranhamente, esta já não veio como incompreensível, mas sim absurdamente desejável. Enoja-lhe relembrar que já pensou assim, pobre criança apartada. Mas na altura tudo lhe parecia ajustado a tão unânime sentimento, estúpido, a essa incógnita vontade de abdicar de existir. Então, de súbito, a origem do toque emergiu em conflicto com a vontade. Na sua já habitual devastação, as mãos cansaram-se do consumista e vicioso toque e, com o direito da sua obrigatória existência, mudou. Mudou de toque. E desse toque para outro, e desse outro para tantos outros díspares. Nisto, a morte despiu-se de fascínio, e o agora sentido mostrou-se, de modo único e inequívoco, mais assombroso que nunca. Os sais das lágrimas deviam-se agora ao medo do fim, ao pânico de não existir, à agonia de ter nascido e ser manipulada a questionar, mais que maquinaria. Ausência e desejo de toque...Numa imaturidade consciente pela vivência, aclamou à racionalidade, deixando de lado a ânsia e premeditação que a viviam, para o prazer de apreciar cada novo padrão de contacto. E a morte suspende, a pairar constantemente sobre a cama onde outrora as pernas tremeram, onde agora sorri. Sorri por tudo o que fez, pensou e será. Por tudo até deixar de existir.

27.2.07

Deus

Eu queria tanto acreditar
Que desta porfia de fim
Um dia me virás buscar
Um dia me porás um fim

E que em teus braços dormirei
Leve, calma e desalmada
Livre do que neste mundo já carreguei
Livre de toda a ilusão criada

Mas tua fé não me move
Assim, aqui, me prende a razão
De que um dia, sendo nada, morrerei
De que um dia pensei ser tudo, em vão

24.2.07

Óbolo

Desconheces porque vives
Sê então absorto e mudo
Cria apática solução
Pensar? Tudo.

Ignora os tremores que
Tentam manter-te levantada
Desfaz-te de emoções
Sentir? Nada.

E quando tiveres de pagar
Pelo dever de existir
Não vais ter nada a dar
Pois nada te fez sorrir

19.2.07

Vício

Vais aguentar, vais pensar que vai passar. Vais irritar-te, estruturar o comportamento padrão da atitude. Vais suportar, aguentar porque alguém sempre cede. Vais cansar-te, vómito pela eterna cedência da tua parte, de não quereres e não parares. Vais torturar-te, pela permissão que me dás, por levares tudo que não te diz respeito. Vais então tentar, tentar o outro lado, desafiar o que constantemente mexe nos cordões do que és. Vais chorar. Exasperante, vais gritar até não poderes mais. Vais destruir, espancar e ferir sem teres noção. Vais questionar o impensável, vais repensar o inquestionável, em pura agonia de dúvida vais querer o fim. Extâse após extâse vais enlouquecer, enlouquecer sem conseguires ou quereres parar. Não saberás mais o que fazer, não sabes já por onde optar, não sabes sequer o que manter, o que eras ou serás. Vais odiar, odiar o que não sabes como vem mas que sabes que virá. Vais errar, vais ignorar a tua ignorância e em impulsos animais vais desabar o que tens vindo sem proveito a construir. Em pânico vais pensar que tomaste a rédia. Vais mas não tomas. Vais tudo porque eu consigo. Consigo e quero conseguir. Quero porque preciso, ou não faria sentido.

14.2.07

Porto

A luz baixa do sol já lhe ofuscava a cara, obrigando-o a fechar os olhos, mesmo sem querendo fazê-lo. Quanto mais remexia os pés, agora gelados pela temperatura ainda baixa daquela água, menos vontade tinha de sair dali. Por vezes perguntava-se se aquela ideia de inexistência de sentido que vivia não lhe traria um sentimento de escárnio pelo que a outragem parecia viver. Só os homens da magrugada, rotineiramente parados naquele porto onde calmamente remexia os pés, o fascinavam já. A cada um, tentava viver-lhes cada percurso. Em longos momentos, variando entre pés molhados ou costas reconfortadas no muro, imaginava entrar-lhes naquele corpo envelhecido pelo sal, divagar cada ideal que tão serenas mentes criaram. Nesta banalidade vivia, interrogando-se da própria estranheza de tal quotidiano. Naquele novo mas não por isso diferente dia, uma nova vaga de vento lhe contava que mais um dos reis daquelas águas estava a caminho. Aquele vapor preto emancipava-se sim, no meio de tanta vermelhidão pelo sol trazida, de forma a que se assemelhava a si próprio, homem que era ali sentado. Tinha especial gosto em rir-se por dentro, analisar a insolência de sujeitos estereotipados que entre dentes comentavam a sua imaginada desgraça. Pobre vida, a de viver junto ao mar sem nunca nele entrar... Porém, intacto a objecções, apreciava que assim o considerassem. Dependência, apenas a tinha do já esquecido nascimento e da vindoura morte. Entre isso, evadia-se do seu próprio percurso, diferente dos pescadores que olhava, diferente da gente que o comentava. A tal felicidade tão necessitada surgia-lhe aos poucos e poucos, sempre perfeita, nunca eufórica, nunca escassa. Olhava agora os pés arroxeados, e lembrava com saudade mais digno homem que tão admiravelmente vivera no barco abandonado parado à sua frente. O sentido da vida é a inexistência deste nesta, escrevera-lhe ele no bloco de notas que sempre tinha consigo. De corpo enterrado na terra, a alma de tal homem pairava sobre si e aquele barco.

7.2.07

Homem de Fato e Chapéu

Intacto no seu alheamento
Caminha nas suas largas passadas,
Longas e calmas, pisa
Incontavelmente, o chão da sua Lisboa.

Distante do agora
Da linha visionária da sua estatura.
Doirado pelo sol,
Inverte o já descido Chiado.
De tique, ajeitando o chapéu negro
Que lhe aquece confortávelmente a cabeça,
Sobe do Rossio, do mar invasor.


O silêncio solarengo, invulgarmente citadino,
Atrai pássaros a gritarem do alto, de
Cada prédio em que se reflecte a vivência banal, cantada.
De encontro a Pessoa, pensa em si.
Seus ideais imortalizados em palavras, dignos.

Calmamente,
Um banco acorda-o para o cansaço suportável das pernas.
Sentado, retira do bolso o seu bloco e caneta.
Rê-le o já escrito, olha o céu,
E acrescenta-lhe o pensamento sedado pela tranquilidade preenchente.
Pousa as mãos, já livres, no banco aquecido pelo sol,
Divaga mais um momento imaginário.

Sobe finalmente para Camões.
A este a luz não ilumina como fizera a Pessoa...
De pé, descansou.
De janelas fechadas ao mundo, pressentiu que o sono do sol chegara,
E voltou a descer.

Novamente, Chiado. Diário ponto de partida e chegada.
Olhou fixamente o raio último do sol.
Fechou os olhos, pensou,
"Mais um", sorriu.
Desapertou a gravata, retirou o chapéu.
Entrou em casa.

Frustração

Calma, porém fervosa, lamenta ciclosamente. Que é feito da convicção que a preenchia? Quimera cingida de inexplicável...questiona então a extraordinariedade. Afinal, seria assim? Iria para sempre a sua fraqueza tão humanamente vingadora cortar-lhe o ilimite da ânsia por mais? Já lhe é impossível visionar outro caminho, por onde quer que a alma sonhadora a leve, a sua própria humanidade fá-la recuar tudo de súbito, prova-lhe que lhe é impossível volver à inocência. Desespero completo por vómito...o que lhe entra a nada lhe sabe já, gosto impensável de desprezo. Vómito então de indesejo, mosto tépido de insatisfação sentida. Tal a conduz ao mais paradoxal, cepticismo...nada, frustação incorrecta existencial. O vómito para si? Assemelha-se a outros como desejo de atenção, o fim do princípio de necessidade. E então, o ódio. Não tem bem a certeza se ódio, mas um descontentamento imenso. Ódio pela incompreensão das criaturas alheias ao seu próprio mundo. Ódio de bipolar desejo, contraditório, de quente contacto e isolamente solitário. Ela e as palavras. Ah, que frustração a incerteza! Que tamanho criador tira prazer de tal tormento? Enoja-lhe a própria fragilidade, o saber que continua não só por si, mas por tais entes que juram sentir. Assim conhece que lhe é inultrapassável este estado, este vaivém de julgamento e porfia. E enfim, deste único modo vive, não sabe se pela tímidez do sentimento, se pela benevolência da condição humana. Frustração dispersa em si.

30.1.07

Controlo

Chamar-lhe-iamos inteligência se nos vivesse completamente. Distânciamento da imperfeição tão unicamente humana, pensada. Mas e se? Coisa tão emanamente intrínseca a de pensar mais alto, o não real. Que luxúria a nossa de etéreo equilírio? Extremos amantes tão logicamente alcançáveis? Há que imaginar, noção de contentamento, de impossibilidade. Capacitado por tal, elevaria-se à mais alta frieza, não vivência subjectiva. Aborto de sociedade desvalorativa, nunca universal. Colapso total perfeccionista. Apenas o inalcansável fascina. Divina balança corporal equisentimental e materialista. Absolutidão de contrários. Tudo. Viciosa errónica. Chora-me por dentro, desilusão. Água desgostosa pela inegável essência, desespero pelo incapaz. Tempo, passar tempo, mente...e então, a calma. O controlo. Mais sóbrio conceito idealizado. E o desejo por tal não é mais que banalidade para alguns. Há que, nisso, procurar o atingível pela coexistência do pensamento, negar frustração e lamento. Controlo de nós.

24.1.07

Palavras

São proferidas num tão vulgar tom que todos lhes desconhecem a criação. Ideal ordinário em que vivem que nem a caneta de um escritor. A abrangência desconhecida, inimaginável, retarda-lhes o pertencente caos. Conhecem cada canto, de onde criaram protecção mundana para os significados omitidos ancestralmente, pura dúvida de necessidade de alguém. Desejo de quente por dentro, vontade de conforto irresponsável, vivência não solitária. Criadas, destróiem a essência concebida. Livres, habitam etéreo pensar humano, esvaiem a lógica por si mesmas criada, vivem de próprio ciclo. Ciclo de fim momentâneo: vingam cada morte, dissipam cada óbvio. Tudo seu.

22.1.07

Nunca

Um dia saberás quem foste
Que sonhaste um mundo só teu
Exististe, exposto
Pensaste o imaginário
Criaste eterna ilusão
Sentir ? Nada.
Tudo em mente
Tudo em vão

Manhã

Desperta do profundo sonho que viveste. No pacífico, ergue o teu pensamento bem alto para que a consciência te invada a alma. Descansa da rede que te atormenta, caminha para o insubstancial passeio da calma alheia. Lá, abdica. O sol encara-te a face como se só a ti iluminasse. Teus olhos reflectem o que te enche por dentro. Tanta paz recôndida que um corpo atónitamente aflito possui. Mas existe sempre este acalmar, tal que só o sol te traz, seja a manhã em que escutas melros de um negro carvão a sussurrarem as mais apaziguadoras preces, sejam as árvores que acabadas de olhar a luz emancipam o seu verde tão calmamente reconfortante. Fresco. Estado de mente tão etéreo e efémero. Há que devorar a sua virtude, dom tão magnificamente eficaz. Angústia e ânsia ? Já te aguardam. Pensamento ribombante volverá a teu corpo. O teu espírito presentemente sedado romperá, imerso na aflição. Nega permissão. Guarda cada manhã de sol para ti.

Definição

Que é existir sem querer morrer
Luz que emancipa no escuro
Sentimento invade corpo duro
Olhos abertos ao mundo,
Impossibilidade de entender

Cumplicidade humana afastada
Mente pura, alma dourada
Angústia preenchente de vazio
Lençol que desabriga frio

Querer o mar que não é escrito
Poetas tais só conseguem ver
Há que encontrar, chamar por nós
Eterno fruto imaturo que é o ser

Tudo o quê, senão viver ?

21.1.07

Fuga

Há que encará-la como um emaranhado de linhas, construído na perfeição em cada seu ínfimo pormenor. Turbilhão enegrecido pela derrota de princípio tomada. Que sentido o de tentar desviar um fim tão existente? O aprisionamento leva à vontade de sumir. Desespero de destruir tudo e partir para bem alto. Os inúmeros braços impotentes tentam o inalcansável, o desemaranhar das linhas, a resolução e ignorância. Porém a fuga nunca se dá, a mente não permite. Bem sabe que as únicas linhas descruzadas vivem da ignorância ou da loucura genialista, ambas não queridas. E prolonga, prolonga de modo a que nunca acabe e sempre se complexe mais. Imensidão de dúvida e confusão. Mente e fuga confrontam-se para dominar o corpo. E as linhas dançam e sorriem como se apreciassem a a derrocada, o ruir do controlo. Sempre souberam que era preciso mais para suportar o confronto inevitável. A alma? Descanso, não sabe se a ignorância ou a inteligência, mas o descanso. Fuga do simples real e ordinário. Vontade tão incomensurável de escapulir, grito de desespero infindável por libertação mental. Os tais de braços esvaiem-se na sua essência, falta de motivação para o desvio do tal fim. Resguardar. Resguardar para depois voltar. E talvez um dia a fuga se dê, se liberte. Que a alma descanse...

15.1.07

Re-cria

Observa o rasto fulvo da vivência inteligível
Abdica do sorriso por entendimento
Sê aquele que concebe o sentido da existência
Existe em paz, conflictua apenas em espíritio
Deitado fantasia a tua realidade
Faz de ti absorto da ignorância dos outros
Fecha as portas a tudo .. sê um só no teu mundo

Abismo

Uma vontade nenhuma. Carência do indecifrável. E o desejo crescente de percepção é tão estranhamente anulado pelo orgulho que o pensamento questiona o seu limite racional. Faz com que cada ideal reúna a sua cor intensa em dúvida, concebendo um negro tão metafisicamente inibidor. Inibe a inconsciência imaginada invisível, querida sem porquê. E se o descontrolo da ânsia por mais leva do branco ao preto, porque não há a loucura de arriscar o para lá da escuridão ? O conjunto de alma pensante e confusa, a reflexão de atitudes e posturas mentais, do monótono nada e tudo que nos preenche, cresce. Cresce e aprisiona o que mais anseia por capturação, dado a capacidade de contaminação da ignorância feliz; e explode .. liberta e grita o extâse de cores, o negro. E é uma queda livre sem fim ..

8.1.07

Duração

Pensei que desse algo melhor
Achei que o étereo poderia evadir-se
Até que o rosa me emancipasse o riso
Julguei o conhecimento de tudo isto

Mas não, nada. Ou tudo.
De facto a contraditariedade muda
O infinito de coisas que boiam em mim
De cor indefinida de pensar

Olhar sem possesão
Inutilidade frenética que me treme
O agarrar, escapa
Desespero ? Grita, ilude e foge !

Pós momento depressivo
Retoma tudo vez a vez
Pensamento eterno inconclusivo
Volta a sensação .. venha ciclo !

Até que chega, momentâneo
Abrir de olhos e esclarece o inalcansável
Humanamente frustrante
E o fim

Um julgar de coisas mortiferamente enlouquecedor

3.1.07

Alma

Ele bate com tanta força e agonia que chega a saber a morte, sabor a medo mas mesmo assim a concretização de palavra. Mas passa sempre, apenas deixa o desejo do fim, daquela morte tão ambiguamente querida. Chamem tresloucada se quiserem, agora a alma deixou de ter ouvidos. O mundo cá dentro vestiu-se de luto pela estupidez dos actos, pelo despercídio de alguma inteligência. A irreversivilidade começa a dar sinais, realmente as flores grandes e vistosas desaparecem com o tempo, não para todos. Para uns apenas deixam de ter importância, ou a sua existência é gozada. Outros, simplesmente invejam a sua simplicidade e adoptam a atitude de parecerem superiores. E se calhar são, ninguém sabe. O que é que esta alma está a fazer ? Meu deus, a complexidade atinge-a como um tiro, mas não liga. E mesmo assim continua a mostrar-se, juro até que avisa .. de nada serve. Nada. Porque no fundo tudo isto é nada. É passar porque tem de ser, porque não há mais nada a fazer. Pode passar-se no apático. Até naquela felicidade patética. E ainda há o passar-se a pensar, a pensar para depois se acabar sem ter percebido porquê, mas sem o patético, o bom do ignorante. Mas o inatingível de momento, talvez por se ter perdido o inteligível, é o porquê deste ciclo obscuro vicioso e auto-consumista. A alma chega até a duvidar da lógica, aquilo que sempre a moveu, tal é a grandiosidade do acabamento. Lógica essa que lhe indicou, tal como aos outros, que se sabemos a causa da coisa e sabemos como resolver a coisa, então acaba-se a coisa. Mas que coisa ? Talvez seja esse o problema da questão da alma. Também, que glória terá uma alma que pergunta sem resposta, que magoa sem perdão, que chora sem porquê. Mas o pensamento, esse sim talvez o maior feito da ciência ou de deus, de momento não tenciono discutir crenças, nunca deixa a alma perder-se em paz. Ela pede para que morra, até que lentamente, não se importa, mas por favor sem consciência do destruimento em roda. Porque assim dói ainda mais cá dentro. E a alma pensa. Pensa mas não atinge. E o que faz é pedir desculpa. Desculpa por existir.