1.12.06

Frio existente

O frio racha qualquer um. Tira o movimento à àgua, ensurdece o vento, mata o verde. A mim ? Congela-me. Pensa-me. Mas que congele por dentro, e não por fora. Porque ao congelar por dentro ia parar, amaria o frio para sempre. Ia parar aquilo que se agrava desde à tempos, aquilo que tenho vergonha de onde veio. Que me estragou. É um tal desenquadramento da realidade temporal que me chora por dentro, porque as lágrimas de fora, as que me sabem a sal, essas não são nada .. são o mínimo extracto do que se passa por dentro. Nem a cabeça baixa, nem os olhos vermelhos, nada disso é o que realmente se passa. O agir como tantos outros faz com que me insiram em determinado grupo, o dos desgraçados, e isso desagrada-me de tal modo que o sentimento em mim me torna desagradável para com o mundo, ainda mais. Porque é algo de extraordinariamente mal encantado que me surge, e daí provém também a sensação de não ser. Eu não sou. Não como queria. E se o frio congelasse por dentro, eu não era nem deixava de ser. Seria desalmada. E como deve saber a lúxuria tal coisa. O dom de não ser, o dom de ser nada. Mas existir. E é um sentimento idolatral o que me enche, e por isso me esvaio ainda mais, por não ser capaz, por sofrer e não saber parar, por cobiçar a felicidade, e que ignorante é da minha parte cobiçar as coisas, o que existe. Como é que alguém que quer não ser quer coisas que existem ? Quer coisas ? É o descontrolo, se pudesse matava-o de forma incomensurável, para que gritasse, gritasse tão alto que se tornasse em desespero, e o desespero em dor infindável, e por fim .. o fim. E é isso que me governa, que me desgraça, é um mau governo sem emenda. E nada pode ser feito, porque destino existe sim, e mal de mim não ser destino o sonhar. Portanto há que esperar, esperar o fim. Para que acabe, e eu deixe de ser. E isso eu quero, só isso eu quero e vai acontecer.

1 comentário:

Anónimo disse...

Frio ,deprimente e triste.
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