18.11.06

Chuva

É incrível a maneira como chove hoje, agora, e como tudo isso me fascina. O barulho da chuva quando cai, a maneira que o céu empalida tornando-se num cinzento tão solitário que inconscientemente me faz pensar que as gotas de àgua que caiem são as suas lágrimas. O vento, junto com a chuva, faz com que até o terraço coberto da casa abandonada fique molhado. Aquela casa está por acabar à anos. Agora, encontra-se meio pintada, e o seu muro, apesar de rodeado por redes verdes escuras, é frequentemente saltado por aqueles que querem explorar tal casa, à tanto por acabar. Eu própria já lá estive, sozinha e triste, mas só em dias de chuva, pois só assim a casa me transcende, de qualquer outra maneira é me igual a tantas outras. E lá nunca choro, as nuvens fazem-no por mim.Mas quero focar-me no agora, e não na história do agora, quero focar-me no que vejo: A casa abandonada, que em dias de sol é igual a tantas outras, mas hoje, o seu cimento combina com as cores do céu; e se nos concentrarmos e fecharmos os olhos, a casa é como que uma orquestraquando a chuva cai, ou nas telhas, ou no cimento, ou ainda na terra e no tijolo, cada um produzindo um som diferente.E o cheiro que invade quem contempla esta imagem é apaixonante; o cheiro a madeira a arder, a lareira. E este, misturado com todos os outros odores que caracterizam tais dias como este, resulta, enfim, no cheiro a que gosto de chamar cheiro a Inverno.Há ainda os pinheiros, que devido ao vento e à chuva libertam pinhas e as suas invulgares folhas, a única coisa que preenche a rua vazia da casa abandonada. E é por tudo isto que a chuva tanto me fascina, por conseguir que nós, seres humanos, reparemos na momentânea beleza de coisas que nunca antes reparámos, como eu e a casa abandonada.

1 comentário:

Anónimo disse...

os Homens há muito que se esqueceram de contemplar a Natureza...há demasiado tempo. Agora só pensam nas suas vidas insignificantes. Ninguém presta atenção a ninguém. E nesta apatia vamos vivendo planeando o dia seguinte até a nossa morte vazia...em vez de ligarmos ao presente e guardarmos o que nos é precioso em vez de o deixar escapar por entre as mãos tal como a nossa própria alma, que desde que nascemos já vendida se encontra à morte e infelicidade.